quarta-feira, março 25, 2009

Março

castelhanos

Não sei como é para vocês, mas para mim a baixa temporada compensa os meses de praias, ruas e estabelecimentos lotados. Abro mão dos meses de verão e dos feriados em troca de dias e noites de absoluto silêncio e quietude.

Eu havia esquecido como isso era, mas numa noite da semana passada, voltando para casa a pé, lembrei.

Caminhava como costumo fazer, a passos firmes e rápidos e ouvindo música em meu headphone. De repente notei que não havia ninguém na avenida e que havia um silêncio diferente ao redor. Num trajeto de mais de meia hora de caminhada pude contar nos dedos os carros que passaram por mim. Na Vila, a maioria dos estabelecimentos estava fechada -- e nem passava das dez da noite. Os poucos estabelecimentos abertos atendiam poucos clientes, decerto satisfeitos com o bom atendimento -- inevitável quando a maioria das mesas está livre.

A temporada ainda resiste; os navios de passageiros garantem aquela dose mínima de caos, dia sim, dia não. Felizmente isso terminará e Ilhabela mergulhará novamente no mais absoluto silêncio, donde jamais deveria ter saído.


.
link da imagem

segunda-feira, março 23, 2009

Ilhabela sem Ilhabela

Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.
Nem mesmo Brasília, modelo de planejamento urbano, conseguiu tornar o cerrado melhor. O que dizer de cidades não planejadas? Alguma cidade do Litoral Norte conseguiu melhorar a Mata Atlântica? Alguma cidade conseguiu melhorar a natureza ao seu redor?

terça-feira, março 17, 2009

Vendo câmera fotográfica

samsung nv15

Estou vendendo uma câmera Samsung NV15, com as seguintes especificações:

-- 10.1 MPixels, altíssima qualidade de imagens para fotos e vídeos.
-- semiprofissional
-- lente alemã Schneider-Kreuznach
-- zoom 5x
-- diversos recursos e modos de funcionamento
-- reconhecimento de rostos e 'anti-shake'
-- flash retrátil
-- teclas sensíveis 'smart touch'
-- visor de 2,5"
-- filma com áudio
-- acompanha capa protetora original, cabos, carregador e cartão de 2GB de memória

Mais informações aqui.

Preço: R$ 500

Informações pelo email ilhabela[arroba]ig.com.br ou deixe um comentário neste post para que eu entre em contato.

quinta-feira, março 12, 2009

Versus

casa

Pode ser só impressão minha, mas talvez valha a pena expor aqui a idéia que me ocorreu para saber o que pensam os leitores que vivem ou visitam Ilhabela.

A idéia é a seguinte.

O que chamamos de Ilhabela é formado hoje de dois corpos distintos: o arquipélago e a cidade. O arquipélago tenta há tempos livrar-se da cidade, que só faz crescer e aumentar sua influência sobre ele.

A relação entre esses dois corpos é semelhante àquela observada numa pessoa tomada por um câncer ou outra doença grave. Doenças simples tendem a se espalhar e é o que de fato ocorre quando a condição física da pessoa é frágil e a doença grave. Em condições normais, a doença é eliminada naturalmente pelo corpo, que também se recupera de eventuais seqüelas deixadas pela doença.

O que se vê em Ilhabela é o esforço constante da cidade para ocupar mais e mais recantos preservados do arquipélago. Ao mesmo tempo, se fosse deixado em paz, o arquipélago faria a cidade se desmanchar -- que é o que se vê em ruínas históricas e em filmes que mostram a extinção da humanidade: construções tomadas pelas plantas, animais selvagens rondando ruas e casas cujas portas e janelas se desfizeram. Sem a cidade, as águas do Canal de São Sebastião voltariam a ser cristalinas e os peixes se multiplicariam. Seria o paraíso a que muitas pessoas se referem quando vêm para Ilhabela, conforme a idéia bíblica que o define como lugar bom, puro e intocado pelos vícios do homem.

Como só há sentido em analisar um lugar em que o homem está presente, percebemos facilmente que este lugar é regido por leis e por atividades humanas. Isto é, de um lado existe a necessidade constante de expandir a cidade, investir, construir, vender e revender e, claro, de manter esse moto contínuo. De outro, existem leis e esforços (pequenos, é claro) no sentido de limitar esse moto contínuo e de transformar aquela necessidade conforme as limitações naturais do arquipélago.

Ocorre no entanto que estes esforços sempre serão falhos. Em sentido estrito, vê-se que ninguém -- dos responsáveis pela elaboração de leis àqueles que as aplicam ou que as ignoram -- encontra-se numa situação tal que lhe permita afirmar com certeza que uma vida inteiramente natural é inerentemente boa. Em outras palavras, ninguém experimentou genuinamente uma vida natural e, portanto, ninguém sabe o que exatamente é o arquipélago, quais são suas qualidades e quais benefícios ele tem a oferecer para a cidade. Via de regra, todas as pessoas -- mesmo as mais ecologicamente xiitas -- trabalham no sentido de tentar conciliar cidade e arquipélago, o que parte sempre do pressuposto de que a cidade é algo bom. Mas não há conciliação possível: a cidade é um processo, o arquipélago é um dado. E se não há conciliação possível, todo esforço nesse sentido cai no vazio que mantém o crescimento da cidade tal como ele sempre foi, assim como mantém também o eterno conflito entre cidade e arquipélago.

A ignorância em relação à impossibilidade de conciliar cidade e arquipélago garante a repetição do processo de destruição do arquipélago. Esse processo pode ser suavizado, mas sem a compreensão do que é a cidade (um processo) e do que é o arquipélago (um dado), não há qualquer conciliação possível.

.
link da imagem

quarta-feira, março 11, 2009

Causar, desfrutar, faturar



Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto
O turista, por definição, está dispensado de ter pleno conhecimento do lugar que visita. Não importa para ele se Ilhabela não é exatamente como aparece no cartão postal, importa apenas que haja sol e que ele possa se divertir — há varias empresas e estabelecimentos dispostos a enfeitiçar o turista. Se as praias e as cachoeiras estiverem sujas (estão), piscinas e cervejas geladas garantirão o frescor dos feriados e finais de semana. Nestas condições o turista ignorará o fato de estar em Ilhabela. Alegria e êxtase à mesma proporção do volume do som e do teor de tóxicos no sangue e na alma do sujeito. Os verbos do turista são festejar e, como diz a moçada, causar (outrora conhecido como “gazetear”).

terça-feira, março 03, 2009

O ralo de Ilhabela

esgoto praia

Meu artigo mais recente no jornal Canal Aberto.

O mar não suporta tudo. O Canal de São Sebastião, dadas suas características geográficas, suporta menos ainda. A ausência de mar aberto no lado mais povoado de Ilhabela nos leva a depender do regime de marés para dissipar o esgoto que chega ao mar. Nem sempre ele se dissipa; às vezes o esgoto fica passeando entre as praias banhadas pelas águas do Canal de São Sebastião. A única vantagem desse estado de coisas é que aqui o cocô sempre bóia e o mar sempre fede, denunciando os maus tratos constantes. O Canal de São Sebastião é um ralo sem sifão. No lado urbano de Ilhabela não há mar aberto que permita dissolver o esgoto antes que ele seja notado; ele sempre será notado — visto, aspirado, engolido, sentido na pele. Não há miopia, ignorância ou incompetência que impeçam o sujeito de notar a decadência das praias ilhabelenses ou que possam torná-lo imune à micose.