Em
meu artigo desta semana no jornal Canal Aberto, destaco a questão da violência urbana e da criminalidade.
O poder público transmite um recado importante ao não colocar a defesa da vida como prioridade máxima em seus trabalhos. A competência para um cargo público pode ser medida pela forma como o sujeito define suas prioridades. Para trabalhar, investir no turismo e no mercado imobiliário, defender o meio ambiente e melhorar a infra-estrutura municipal é necessário antes estar vivo e ter a certeza de que sua família e seus bens não serão ameaçados. Qual brasileiro hoje pode ter essa certeza? Se nem mesmo os responsáveis por manter a paz e a ordem não têm senso de prioridades e não conseguem garantir a própria integridade, que dizer de cidadãos comuns?
Em minha opinião, a segurança pública e a defesa da vida deveriam ser as prioridades máximas de qualquer cidade. Todas as ações e políticas públicas deveriam ser desenvolvidas e avaliadas conforme a relação que têm com essas prioridades.
Por exemplo, a educação formal tem importante papel preventivo, assim como outros serviços e ações sociais básicas, como saúde e geração de empregos. Ações estruturais -- como realização de obras públicas -- interferem em alguma medida na segurança pública, já que delas podem depender a acessibilidade, a facilidade de deslocamento e a prevenção de crimes.
Naturalmente, algumas ações interferem diretamente. Outras, indiretamente. Mas há algumas que não interferem em nada. Em meu artigo eu chego a mencionar algumas ações públicas que são absolutamente inócuas e que deveriam ser deixadas de lado até que a criminalidade despenque a níveis humanamente aceitáveis.
Destaco ainda o peso que os
crimes contra o patrimônio têm em Ilhabela. São freqüentes as ocorrências desse tipo, ainda que haja pouca divulgação pela imprensa local e regional. Muitas pessoas subestimam a importância desses crimes, já que eles afetam geralmente pessoas de poder aquisitivo mais alto, que, com efeito, recorrem a estruturas e serviços de segurança particular. Mas os crimes contra o patrimônio estimulam outras formas de crime, inclusive o organizado. E são ameaças à vida como qualquer outro crime.
Destaco também o problema da violência urbana representado por
brigas e agressões -- bastante comuns na noite ilhabelense, principalmente em finais de semana. Estas ocorrências são as menos registradas e, por isso, raramente participam das estatísticas. É importante lembrar que um brutamontes que se põe a brigar na rua ou numa balada está cometendo um crime. Ao mesmo tempo ele colabora para piorar o ambiente social, como se este já não estivesse insuportavelmente ruim e violento.
Fico surpreso quando vejo que a maioria dos briguentos é gente conhecida, gente que freqüenta bares, restaurantes e eventos sociais em Ilhabela. Essas pessoas participam da sociedade ilhabelense como se fossem sujeitos dignos de respeito, como se o espancamento fosse um expediente razoável para resolver conflitos sociais.
Mas a surpresa diminui quando lembro que a história recente de Ilhabela traz inúmeros casos de pessoas públicas que saíram na mão, que chegaram às vias de fato. Quando até os homens públicos resolvem desavenças na porrada, o que esperar das pessoas que votam neles, que pagam seus salários, que seguem suas leis?
Talvez as coisas mudem quando houver uma intolerância generalizada a todas as formas de violência.