Este post é um convite. O título, uma possibilidade. A imagem acima, um esboço.
A idéia é constituir uma associação -- não no sentido burocrático do termo, mas no sentido prático, de unir pessoas com interesses semelhantes.
Meu interesse pessoal é continuar pedalando e fazer algo para que a cidade em que vivo tenha cada vez mais condições para que mais pessoas pedalem. Tenho a impressão de que há mais pessoas com esse perfil em Ilhabela -- pessoas que, como eu, vão ao trabalho, à escola ou às compras de bicicleta -- porque preferem ou porque dependem desse meio de transporte.
Não importa qual seja a sua condição. Basta ser ciclista em Ilhabela -- não importa se você é morador, veranista ou turista habitual. Se você tem o costume de pedalar em Ilhabela, por lazer, por necessidade ou ambos, seja bem-vindo (ou bem-vinda).
Não tenho o costume de apresentar idéias inacabadas, mas penso que mesmo nesta fase de «gestação» a participação de outros ciclistas será muito útil. O objetivo não é estabelecer uma associação esportiva, nosso objeto será o ciclismo urbano, utilitário ou recreativo.
Por enquanto, basta manifestar-se de alguma forma, apoiando a idéia e expressando alguma disposição para participar. Mande-me um email ou deixe um comentário aqui no blog indicando uma forma através da qual você poderá ser contatado(a).
Embora eu não tenha a intenção de tornar esta idéia burocrática, é importante estabelecer algumas diretrizes, intenções, objetivos e outras coisas do gênero. Alguns itens possíveis:
1) Promover a bicicleta como meio de transporte em Ilhabela, inclusive nos termos estabelecidos pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
2) Promover ações de educação, conscientização e informação para ciclistas, motoristas e pedestres sobre o uso da bicicleta no trânsito de Ilhabela.
3) Fiscalizar e avaliar constantemente as condições de trânsito para os ciclistas. Atuar junto ao poder público municipal no sentido de melhorar constantemente essas condições.
***
Não considero esta iniciativa uma forma de cicloativismo. O ativismo, de um modo geral, comete o erro de pressupor sua causa mais importante do que outras. Penso que não deve ser este o caso do ciclismo. Pedalar não é melhor, mais importante ou mais necessário do que caminhar ou dirigir um carro. O importante é que cada meio de transporte funcione bem, que seus respectivos usuários sejam conscientes, respeitosos e respeitados.
Como, numa primeira análise, nota-se que Ilhabela conta com mais ruas, avenidas e calçadas do que com ciclovias, é evidente que muito pode ser feito por nós e para nós, ciclistas.
Manifestem-se. Prosseguiremos em seguida.
A todos, muito obrigado e boas pedaladas.
***
Quem quiser, leia este texto, que pode ser um bom ponto de partida para ações, discussões e outras coisas mais:
10 razões para pedalar
E no Facebook: Ciclistas Urbanos de Ilhabela
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quarta-feira, dezembro 15, 2010
segunda-feira, dezembro 13, 2010
Nivelando por baixo
Que tal um condomínio aqui?
Mais um artigo meu publicado recentemente no jornal canalABERTO:
Há várias décadas entregamos aquilo que só existe no arquipélago em troca de coisas que podem ser conseguidas em qualquer lugar. Poder público e iniciativa privada chamam isso de progresso. Se fôssemos uma capital regional, um pólo financeiro ou industrial, eu entenderia. Mas somos uma cidade simples, originalmente formada de ranchos de pesca interligados por trilhas de terra batida. Até bem pouco tempo não havia carros e energia elétrica em Ilhabela. Hoje há carros e energia elétrica, mas há também assaltos e poluição do mar e dos rios. Nada obtivemos de bom nestes últimos anos que não viesse acompanhado de uma contrapartida igual ou maior.
Para ler o texto integral, clique aqui.
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quinta-feira, dezembro 09, 2010
Consulte um burocrata
Artigo meu publicado recentemente no jornal canalABERTO.
Para ler o texto todo, clique aqui.
Não importa quem tenha vencido as eleições, não importa se a disputa é para presidente ou para vereador: nós, eleitores, sempre saímos perdendo pelo simples fato de entregar nosso destino nas mãos de um punhado de pessoas que, no mais das vezes, não são mais esclarecidas, honestas e responsáveis do que nós. Por hora, basta dizer que, por definição, quem disputa um cargo político não tem o menor interesse na verdade ou, se o tem, submete este interesse ao esforço necessário para obter aquele cargo — estou certo de que o leitor consegue identificar vários casos que ilustram o que estou dizendo.
Para ler o texto todo, clique aqui.
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sábado, novembro 13, 2010
Ciclovia: proibido para ciclistas
A temporada de navios nem bem começou e recomeçaram os sinais de desorganização.
Quinta-feira última (dia 11 de novembro) circulei por volta de meio-dia na ciclovia no trecho compreendido entre o Saco da Capela e a Vila. Havia tantas pessoas caminhando na ciclovia que desisti e fui pedalar na avenida. Antes disso, freei diante de um grupo que reclamou por eu estar ali e tive que explicar que ali era uma ciclovia.
Desde que existe a temporada de navios, o problema se repete: a ciclovia fica absolutamente tomada por pedestres no trecho citado. É evidente que essas pessoas não têm culpa; a desinformação predominará enquanto um acidente não acontecer -- e os riscos estão aí, para ciclistas que terão que voltar à avenida para pedalar ou para pedestres que andam tranqüilos imaginando que a ciclovia é um passeio.
***
A gestão anterior não se dignou a concluir a ciclovia. A gestão atual, malgrado a expectativa que havia em torno dela, também não. Aparentemente as duas gestões não compreenderam algo muito importante; eu provavelmente já falei disso neste blog, mas repito:
1) Mais bicicletas circulando significam menos carros e motos nas ruas. Menos carros e motos nas ruas significa menos trânsito, menos poluição e menos acidentes graves.
2) O ciclismo, mesmo o urbano, é uma forma de envolver as pessoas em atividades físicas. Pessoas que se dedicam a atividades físicas costumam sentir isso na saúde.
3) Uma cidade turística litorânea precisa ter uma ciclovia bem sinalizada, informação correta e orientação decente. Por que? Porque cada uma dessas coisas faz parte de todas as cidades que tenham alguma pretensão de ter alguma relevância no turismo nacional ou internacional.
***
Update: hoje (22 de novembro de 2010) tive a boa notícia de que as obras que acontecem junto ao Hotel da Praia (av. Pedro de Paula Moraes) são de construção do novo trecho da ciclovia. Some-se a isso a reforma urbana na Barra Velha, que também incluirá novos trechos da ciclovia. Talvez estes sejam dois bons sinais de que a Prefeitura decidiu olhar um pouco para nós, ciclistas, e de que teremos em breve uma outra realidade, diferente da que indiquei neste post. É aguardar para ver -- e para pedalar.
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sexta-feira, outubro 22, 2010
Soul Black
Soul Black é o primeiro CD de um dos músicos mais criativos que Ilhabela já produziu -- o cantor, compositor e instrumentista Paulo Prestes.
Para ouvi-lo, clique aqui. Recomendadíssimo.
Aproveite e veja também o site do músico.
terça-feira, outubro 19, 2010
Precisa?
(Fotos: PMI)
Eu estou até agora tentando entender a lógica da Prefeitura de Ilhabela ao colocar estes outdoors na entrada da cidade.
O texto da matéria, no site da Prefeitura, informa que a parceria firmada com a empresa que instalou os outdoors prevê publicidade em mobiliário urbano também, o que, somada toda a publicidade, retornará aproximadamente R$300 mil por mês aos cofres públicos.
Há bem pouco tempo houve toda uma polêmica em torno da lei Cidade Limpa, que previa a eliminação de quase todo tipo de publicidade em forma de placas, outdoors, banners etc. Em seguida surge esse totem.
Penso que faltou criatividade e prevaleceu a lógica da melancia no pescoço, para dizer o mínimo. Para manter pelo menos a coerência, liberem as placas para o comércio local (que, aliás, também retornam impostos para o município).
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quarta-feira, setembro 15, 2010
Nivaldo Simões
Nivaldo Simões faleceu em Campinas, na tarde de ontem, 14 de setembro de 2010. Segue a nota da Assessoria de Imprensa de Ilhabela:
***
Não me lembro quando conheci o Nivaldo, mas sempre terei na memória sua grandeza -- como pessoa, como cidadão, como ambientalista e como apaixonado por Ilhabela, sempre disposto a defender o presente e o passado deste arquipélago.
Meus primeiros contatos com o Nivaldo vieram através do papel, com o Jornal da Ilha. Nós dois éramos colunistas desse jornal -- ele com sua coluna de curtas, mais tarde recriada no jornal Canal Aberto, que ajudou a fundar; eu, com artigos curtos sobre meio ambiente e outros temas.
Há cerca de quatro anos fundou o jornal Canal Aberto, em cujas páginas se manteve atuante e combativo, sempre afinado com as questões mais importantes do arquipélago. Mesmo que com pouco eco, repetia com freqüência que Ilhabela não era «uma ilha chamada bela», para que não tivéssemos dúvidas de que vivíamos num arquipélago e como alerta àqueles que tristemente insistiam em grafar «Ilha Bela».
O blog A Mandiqüera (que não sofreu os golpes da reforma ortográfica) permanece no ar, com crônicas que Nivaldo publicava entre uma e outra edição do Canal Aberto. Talvez seja possível encontrar também diversos posts de Nivaldo na comunidade de Ilhabela no Orkut. Ele raramente iniciava tópicos de discussão -- quase sempre os encerrava, colocando pingos nos is e deslocando a discussão das opiniões para os fatos.
Em dezembro de 2007 tive a honra e o privilégio de entrevistá-lo em ocasião de meu mestrado. Além de conhecer profundamente a história de Ilhabela (o que o levou a escrever o livro que hoje é cartilha das escolas da cidade), Nivaldo veio para Ilhabela antes da eclosão do turismo, da especulação imobiliária e do desenvolvimento urbano. Não apenas conhecia Ilhabela, mas vivia o lugar.
A entrevista que disponibilizo aqui é longa (aproximadamente 30 páginas) e trata mormente da evolução urbana de Ilhabela -- ora pendendo para as questões ambientais, ora para as questões políticas. Por ter sido realizada para o desenvolvimento de meu mestrado na FAU-USP, talvez não interesse a muitas pessoas. Àqueles mais afinados com as questões locais e que se interessam por Ilhabela e se preocupam com este lugar, esta entrevista é rica em histórias e valores que têm se tornado cada vez mais raros por aqui. Em suma, uma aula sobre Ilhabela.
A entrevista termina subitamente porque tive problemas técnicos naquele dia. Transcrevi apenas o conteúdo cujo áudio foi devidamente registrado. Apenas poucos minutos da entrevista não foram transcritos, o que significa que o essencial está registrado nesse arquivo.
Clique aqui para baixar a entrevista com Nivaldo Simões (PDF)
Faleceu nesta terça-feira (14/9), às 15h, no Hospital de Campinas (SP), o secretário executivo da Fundação Arte e Cultura de Ilhabela (Fundaci), Nivaldo Simões, 54 anos. Autor do livro “Conto, canto e encanto com a minha história...Uma viagem pela história do Arquipélago de Ilhabela”.
Nivaldo vinha lutando contra uma infecção de causa ainda desconhecida. Escritor, historiador e grande amante das causas ambientais e culturais, ele foi Secretário da Cultura, diretor de Fiscalização Municipal e Presidente da Defesa Civil no período de 97 a 2000, no governo da ex-prefeita Nilce Signorini; de 2000 a 2004, foi diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de São Sebastião. Atuou ativamente no processo de elaboração do Gerenciamento Costeiro do Litoral Norte.
Também adorava a comunicação, tanto que na década de 90, integrou a redação do Jornal Imprensa Livre, onde chegou a editor e ficou conhecido principalmente pela coluna “Curtas”. Foi colunista do extinto Jornal da Ilha, no qual tinha a conhecida coluna “Diário de um Ilhéu”. Há quatro anos ajudou a criar o Jornal Canal Aberto.
Seu livro sobre a história de Ilhabela é referência bibliográfica na rede de ensino do município. Nivaldo Simões deixa um filho, o professor de educação física Denis Simões. O velório está previsto para esta quarta-feira (15/9), na Câmara Municipal, na Vila.
A Prefeitura da cidade decretou luto oficial.
***
Não me lembro quando conheci o Nivaldo, mas sempre terei na memória sua grandeza -- como pessoa, como cidadão, como ambientalista e como apaixonado por Ilhabela, sempre disposto a defender o presente e o passado deste arquipélago.
Meus primeiros contatos com o Nivaldo vieram através do papel, com o Jornal da Ilha. Nós dois éramos colunistas desse jornal -- ele com sua coluna de curtas, mais tarde recriada no jornal Canal Aberto, que ajudou a fundar; eu, com artigos curtos sobre meio ambiente e outros temas.
Há cerca de quatro anos fundou o jornal Canal Aberto, em cujas páginas se manteve atuante e combativo, sempre afinado com as questões mais importantes do arquipélago. Mesmo que com pouco eco, repetia com freqüência que Ilhabela não era «uma ilha chamada bela», para que não tivéssemos dúvidas de que vivíamos num arquipélago e como alerta àqueles que tristemente insistiam em grafar «Ilha Bela».
O blog A Mandiqüera (que não sofreu os golpes da reforma ortográfica) permanece no ar, com crônicas que Nivaldo publicava entre uma e outra edição do Canal Aberto. Talvez seja possível encontrar também diversos posts de Nivaldo na comunidade de Ilhabela no Orkut. Ele raramente iniciava tópicos de discussão -- quase sempre os encerrava, colocando pingos nos is e deslocando a discussão das opiniões para os fatos.
Em dezembro de 2007 tive a honra e o privilégio de entrevistá-lo em ocasião de meu mestrado. Além de conhecer profundamente a história de Ilhabela (o que o levou a escrever o livro que hoje é cartilha das escolas da cidade), Nivaldo veio para Ilhabela antes da eclosão do turismo, da especulação imobiliária e do desenvolvimento urbano. Não apenas conhecia Ilhabela, mas vivia o lugar.
A entrevista que disponibilizo aqui é longa (aproximadamente 30 páginas) e trata mormente da evolução urbana de Ilhabela -- ora pendendo para as questões ambientais, ora para as questões políticas. Por ter sido realizada para o desenvolvimento de meu mestrado na FAU-USP, talvez não interesse a muitas pessoas. Àqueles mais afinados com as questões locais e que se interessam por Ilhabela e se preocupam com este lugar, esta entrevista é rica em histórias e valores que têm se tornado cada vez mais raros por aqui. Em suma, uma aula sobre Ilhabela.
A entrevista termina subitamente porque tive problemas técnicos naquele dia. Transcrevi apenas o conteúdo cujo áudio foi devidamente registrado. Apenas poucos minutos da entrevista não foram transcritos, o que significa que o essencial está registrado nesse arquivo.
Clique aqui para baixar a entrevista com Nivaldo Simões (PDF)
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domingo, setembro 12, 2010
Lula, só no mar
Eu sou do tempo em que lula era o molusco cefalópode pescado com grande euforia no pier da Vila. A época em que as lulas eram mais abundantes atraía pescadores de outras cidades. Eis a principal colaboração das lulas a Ilhabela e ao turismo no arquipélago.
Os tempos mudaram. Leio no jornal Canal Aberto que a Prefeitura de Ilhabela está avaliando a possibilidade de dar o nome do atual presidente da República ao Centro de Convenções do município -- cuja construção foi iniciada recentemente no Pequeá.
Eu me pergunto se Lula -- o presidente -- teria trazido para Ilhabela benefícios maiores do que aqueles trazidos pelas lulas. Não encontro respostas. Na lista de realizações do Governo Federal em Ilhabela não encontro nada que se compare às aglomerações de turistas pescadores no pier da Vila. As lulas fizeram mais por Ilhabela do que o nosso presidente.
Mesmo que as lulas nada tivessem trazido de positivo para o arquipélago e tivessem ficado nadando discretamente no fundo do Canal de São Sebastião, bastaria comparar essa nulidade discreta com os dois maiores feitos do governo do PT para render aplausos aos moluscos.
O primeiro feito foi o Mensalão. Sobre isso, recomendo a leitura do livro «O Chefe», de Ivo Patarra, que pode ser baixado aqui ou adquirido na livraria da Folha. Basta dizer que os cabeças do esquema continuam livres, leves e soltos -- e gozam de confortável status no organograma do PT, que vê cada vez menos diferença entre partido e governo. E, claro, Lula sabia de tudo.
O segundo feito é a histórica parceria do PT com o que existe de pior na política latino-americana: ditadores como Evo Morales, Fidel Castro e Hugo Chavez e organizações terroristas como as FARC, o MIR (Chile) e o Sendero Luminoso (Peru) entre outras jóias da democracia do continente. Essa parceria não teria importância se não fosse algo especificamente elaborado para criar políticas estrutura supra-nacionais, cujo maior símbolo é o Foro de São Paulo. Em linhas breves, o Foro de São Paulo é o clube de comunistas da América Latina, organização de cuja aprovação depende a maioria das políticas dos países participantes (como o Brasil, Cuba, Venezuela e Bolívia). Em outras palavras, participar do Foro significa governar para o Foro, o que é o mesmo que trair o país e jogar a soberania nacional na lata do lixo. Isto já foi admitido pelo próprio presidente em discurso oficial.
Resumindo: em nível local ou regional Lula nada fez de notável; em nível nacional o presidente colocou o país de joelhos diante da nata da corrupção e do totalitarismo. E mesmo assim a Prefeitura Municipal de Ilhabela cogita dar o nome do presidente para o Centro de Convenções. A troco de quê?
quinta-feira, julho 29, 2010
Adagio molto
Responda-me, ó caro leitor: é apenas impressão minha (e de mais todas as pessoas com quem tenho conversado) ou Ilhabela realmente é um lugar onde tudo tende a avançar com muita, mas muita, mas muita lentidão?
Veja:
-- As coisas parecem ser tão lentas que causam a impressão de estar recuando, em vez de se deslocar à frente, progredir, desenvolver-se. Ilhabela é uma pedra coberta de limo.
-- Qualquer nova idéia é tratada com o ceticismo ignorante do "volte semana que vem" (que prende, interrompe movimentos e traz incertezas), não com a objetividade cavalheiresca do "não, obrigado" (que dá certezas e indica novas direções).
-- É evidente que o ceticismo ignorante tem como objetivo acobertar o fato simples de que Ilhabela é uma pedra coberta de limo. O desinteresse em oferecer certezas, mesmo as negativas, permite nutrir a idéia de que Ilhabela está se movendo e que um dia ela seguirá na direção que você indicou. Mas ela não se move e, mesmo que se mova, dificilmente seguirá na direção que você indicou. Por que?
Eu tenho lá minhas teses sobre os motivos para as coisas serem assim, mas antes gostaria de saber se o que vejo corresponde à realidade.
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segunda-feira, julho 26, 2010
Vende-se Ilhabela
Uma cidade é feita principalmente de casas. Uma cidade só merece este nome quando pessoas se associam a um lugar ao ponto de nele desenvolverem suas vidas. Esta associação só se realiza quando estas pessoas começam a construir casas nesse lugar e quando estas casas são realmente usada como tais, isto é, quando cada casa efetivamente se torna o lugar de comer, de dormir, de constituir e reunir a família, de conservar objetos, memórias, costumes e tradições. Antes disso uma casa é apenas uma construção, como um galpão, uma ponte ou um muro de arrimo.
À medida que as casas são usadas como casas de verdade, cidades tornam-se cidades de verdade. Então, memórias, costumes e tradições, assim como princípios e valores, antes restritas aos limites de cada família e de cada casa, transbordam para ruas, praças, escolas, associações, bares, cafés e outros espaços coletivos. Assim se faz uma cidade de verdade.
*
Uma das vantagens de pedalar é poder observar mais detalhes das cidades e saber até que ponto elas são "de verdade" ou não. Motorizadas, as pessoas deslocam-se rápido demais ou ficam isoladas demais daquilo que a cidade realmente é. Pedalando tenho notado um fenômeno curioso (e preocupante): há cada vez mais casas à venda em Ilhabela. O que isto significa?
Se admitirmos que todas as pessoas que tentam vender suas casas em Ilhabela estão querendo apenas mudar de bairro, casas colocadas à venda são apenas casas colocadas à venda. Mas se fizermos uma suposição mais razoável, a de que muitas dessas casas foram colocadas à venda por pessoas que as tinham como investimentos e por pessoas que pretendem sair de Ilhabela, então surgem motivos para preocupação. Em outras palavras, isto significa que Ilhabela está à venda. Mesmo que poucas casas sejam vendidas, a enorme oferta de imóveis demonstra algo sério: as pessoas que têm casas em Ilhabela estão cada vez menos dispostas a construir suas vidas nesta cidade. Portanto, estas casas já não são casas e a cidade aos poucos deixa de ser uma cidade de verdade -- trata-se de uma conveniência urbanística, assim como aquelas casas são mera conveniência financeira.
Ora, um lugar cujo solo não recebeu raízes é um lugar sem vida -- e a partir daí não é necessário dizer mais nada, mas observar a realidade com mais atenção e lembrar que uma planta que cresce isolada tem menos chances de sobreviver.
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segunda-feira, julho 12, 2010
Yoga em Ilhabela
Este mês o Templo do Yoga inicia suas atividades em Ilhabela.
O Templo do Yoga foi fundado em 2008 pelo Swami Shankar Nath, na cidade de Santos. Em 2009 tive o privilégio de concluir minha formação com o Swami e prossegui participando de suas aulas até o início de 2010. Recentemente, graças à ajuda do Swami, consegui viabilizar a criação de meu próprio espaço aqui em Ilhabela.
Deixo aqui meu agradecimento não apenas ao Swami, mas também à equipe do Hotel Petit Village — cujo profissionalismo e bom atendimento foram essenciais para viabilizar o estabelecimento desta unidade do Templo do Yoga em Ilhabela.
A quem vem acompanhando este blog, convido a visitar o site da nova escola:
Templo do Yoga de Ilhabela
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sábado, maio 22, 2010
Questão de ordem
Todo mundo sabe que na Semana da Cultura Caiçara deste ano havia dois bons shows programados -- um na sexta, dia 14, com Almir Sater e outro no sábado, dia 15, com Sérgio Reis. Todo mundo deve saber também que os dois shows não aconteceram -- os artistas originalmente programados foram substituídos por artistas locais.
Não tenho informações sobre como foi o evento no sábado. Na sexta o que presenciei foi o seguinte: as autoridades presentes na Praça Coronel Julião não foram capazes de subir ao palco para oferecer explicações sobre a mudança de última hora ou para pedir desculpas pelo ocorrido.
Eu não me senti pessoalmente ofendido pela mudança, embora goste muito da música instrumental de Almir Sater. Problemas podem ocorrer e foi este o caso. Felizmente havia um grupo musical de Ilhabela disposto a animar aquela noite da Semana da Cultura Caiçara.
O problema, bastante sério, é a total displicência com que o assunto foi tratado pelos responsáveis. Isto é, não foi tratado. As informações disponíveis correram à boca miúda e até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu.
Não me interessa o fato em si, porque, como disse antes, não me sinto pessoalmente ofendido com o que houve -- a noite foi agradável, enfim. O que me preocupa é o que o fato representa: pessoas públicas que não vêm a público quando sua presença é fundamental, pessoas públicas que não compreendem qual é a hierarquia que devem seguir, pessoas públicas que não sabem o que é liderança, organização e representatividade.
Se ignoram todas estas coisas, explico.
-- Quando um problema surge na condução de qualquer aspecto da administração de um município, é fundamental que os responsáveis se manifestem, dêem todas as informações necessárias e coloquem-se à disposição caso surjam dúvidas sobre aquele assunto -- mesmo que seja um show numa festa popular.
-- Ocupar um cargo público, a despeito do onipresente cartaz que lembra o contribuinte dos riscos de ofender um funcionário público em ação, significa servir à população, não o contrário. Como dizem as definições clássicas, o poder do homem público emana da população -- e o dinheiro que o sustenta também. Só isto já seria suficiente para neutralizar instituições nauseabundas como a carteirada e o "você sabe com quem está falando?".
-- Um cargo público tem um enorme peso simbólico na condução de um município -- tanto maior é esse peso quanto mais alta a posição do indivíduo no organograma de uma prefeitura. Prefeitos, secretários, vereadores, deputados -- mais do que simplesmente realizar obrigações previstas na lei, todo homem público simboliza algo que influenciará a forma como a sociedade se constrói e se desenvolve.
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quinta-feira, maio 06, 2010
Outono
Àquelas pessoas que, como eu, sofrem de incontinência opiniática no que toca aos diversos problemas que afetam Ilhabela, o outono é época especial, cheia de sinais que, somados ou tomados isoladamente, são capazes de calar a boca até mesmo do mais resmelengo dos analistas.
Nesta época tudo é melhor. Sim, melhor.
Com temperaturas mais amenas, os turistas já começaram a subir a serra em busca do frio esnobe de Campos do Jordão. Só os que têm algum interesse genuíno em Ilhabela atravessam o Canal de São Sebastião; são turistas menos afetados pela moda, pelo point do momento, que não fazem questão de trazer para o arquipélago seu nojinho da rusticidade local. Eles a aceitam bem e é essa rusticidade que permite que a cidade seja um pouco mais sincera, um pouco mais simples, um pouco mais lenta.
Apesar das temperaturas amenas, ainda há calor suficiente para ir à praia, que ficam sistematicamente vazias no outono. É possível caminhar longamente sem esbarrar em ninguém ou nada além dos muros que insistem em invadir a areia. Quem já freqüentou uma praia vazia sabe o que significa poder ouvir o som manso do ir-e-vir do mar.
Além disso, não existe em Ilhabela época mais exuberante do que o outono. O calor do verão estreita nossa relação com o sol, mas é no outono que os panoramas mais espetaculares se revelam. O verão nos deixa extrovertidos demais, desejosos de roupas mínimas, incomodados com o chão quente e o suor abundante. O inverno nos deixa introvertidos demais; buscamos o sol com finalidade e nos basta o simples fato do alívio do frio. O outono nos convida a observar -- em vez de apenas buscar luz ou sombra. E a observação só é possível quando há silêncio.
***
O céu se manifestou quando comecei a anotar estas palavras no papel. E ainda há quem acredite em coincidências.
Luz rara em outras épocas do ano. A câmera (de celular) não ajudou, mas o céu fez sua parte.
Nesta época tudo é melhor. Sim, melhor.
Com temperaturas mais amenas, os turistas já começaram a subir a serra em busca do frio esnobe de Campos do Jordão. Só os que têm algum interesse genuíno em Ilhabela atravessam o Canal de São Sebastião; são turistas menos afetados pela moda, pelo point do momento, que não fazem questão de trazer para o arquipélago seu nojinho da rusticidade local. Eles a aceitam bem e é essa rusticidade que permite que a cidade seja um pouco mais sincera, um pouco mais simples, um pouco mais lenta.
Apesar das temperaturas amenas, ainda há calor suficiente para ir à praia, que ficam sistematicamente vazias no outono. É possível caminhar longamente sem esbarrar em ninguém ou nada além dos muros que insistem em invadir a areia. Quem já freqüentou uma praia vazia sabe o que significa poder ouvir o som manso do ir-e-vir do mar.
Além disso, não existe em Ilhabela época mais exuberante do que o outono. O calor do verão estreita nossa relação com o sol, mas é no outono que os panoramas mais espetaculares se revelam. O verão nos deixa extrovertidos demais, desejosos de roupas mínimas, incomodados com o chão quente e o suor abundante. O inverno nos deixa introvertidos demais; buscamos o sol com finalidade e nos basta o simples fato do alívio do frio. O outono nos convida a observar -- em vez de apenas buscar luz ou sombra. E a observação só é possível quando há silêncio.
***
O céu se manifestou quando comecei a anotar estas palavras no papel. E ainda há quem acredite em coincidências.
Luz rara em outras épocas do ano. A câmera (de celular) não ajudou, mas o céu fez sua parte.
quarta-feira, abril 28, 2010
Aikido Ilhabela
O grupo de Shin Shin Toitsu Aikido de Ilhabela retomou ontem suas atividades no Hotel Petit Village. Mais informações sobre o aikido e sobre as aulas do grupo, aqui.
Sejam bem-vindos.
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segunda-feira, março 29, 2010
Alívio
Fiquei aproximadamente dez meses sem vir para Ilhabela. Passei por aqui nas últimas festas de fim de ano, para rever a família e arejar os humores -- ocasião que não conta como um retorno, mas apenas como uma visita breve e efêmera.
Neste fim de março pude finalmente retornar e ficar aqui com tempo e disposição necessários para apreciar esta cidade, observar-lhe eventuais transformações e pensar nessas coisas com algum senso crítico. Ao fim deste processo senti alívio. A despeito do que ouvi à distância, Ilhabela não mudou em nada. Continua a ser exatamente igual ao que era quando a deixei, em junho do ano passado.
Eu disse em outras ocasiões que o que torna este lugar admirável é sua capacidade de não mudar, de manter-se exatamente como sempre foi. Jóias como o pico do Baepi, a Baía dos Castelhanos e até mesmo regiões mais urbanizadas como o Saco da Capela encantam justamente pela capacidade de se manter exatamente como são, sem esconder um alheamento diante das turbas que a cada feriado tentam lhes dar ares boçais. Turistas vêm, aos montes, mas uma hora eles acabam deixando esta cidade e deixam nela o silêncio permanente das noites de domingo, sem carros e com rodas de violão. Ilhabela pode não ter parado no tempo, mas é um alívio descobrir que ainda há traços de vinte anos atrás nestas terras. A paisagem não mudou, algumas pessoas também não mudaram.
Não quero parecer (novamente) nostálgico, mas é fácil perceber o valor dessas coisas. Veja esta foto, por exemplo:
Esta imagem do Saco da Capela tem aproximadamente trinta anos (clique nela para ampliar). Embora não seja uma foto nitida, percebem-se nela duas coisas. Primeiro, em trinta anos não houve diferenças importantes no desenho da pequena baía; até mesmo as grandes árvores da Ponta do Pequeá (pinheiros ou eucaliptos, não lembro exatamente) são as mesmas. Segundo, a quantidade de barcos aumentou consideravelmente; apesar disto, ainda é possível encontrar nesta praia a mesma atmosfera tranqüila de trinta anos atrás, com águas calmas e agradáveis -- talvez não tão limpas e cristalinas, mas ainda adequadas para o banho de mar numa semana sem chuvas.
Poucas pessoas notam, mas o que permite que este lugar mantenha seu valor é justamente o fato de existir gente interessada em coisas aparentemente sem valor, sem utilidade ou interesse particular. Muitas pessoas vêm para Ilhabela em busca de algazarra e movimento, mas o que realmente move este lugar são as pessoas que percebem a importância de fazê-lo parar.
Neste fim de março pude finalmente retornar e ficar aqui com tempo e disposição necessários para apreciar esta cidade, observar-lhe eventuais transformações e pensar nessas coisas com algum senso crítico. Ao fim deste processo senti alívio. A despeito do que ouvi à distância, Ilhabela não mudou em nada. Continua a ser exatamente igual ao que era quando a deixei, em junho do ano passado.
Eu disse em outras ocasiões que o que torna este lugar admirável é sua capacidade de não mudar, de manter-se exatamente como sempre foi. Jóias como o pico do Baepi, a Baía dos Castelhanos e até mesmo regiões mais urbanizadas como o Saco da Capela encantam justamente pela capacidade de se manter exatamente como são, sem esconder um alheamento diante das turbas que a cada feriado tentam lhes dar ares boçais. Turistas vêm, aos montes, mas uma hora eles acabam deixando esta cidade e deixam nela o silêncio permanente das noites de domingo, sem carros e com rodas de violão. Ilhabela pode não ter parado no tempo, mas é um alívio descobrir que ainda há traços de vinte anos atrás nestas terras. A paisagem não mudou, algumas pessoas também não mudaram.
Não quero parecer (novamente) nostálgico, mas é fácil perceber o valor dessas coisas. Veja esta foto, por exemplo:
Esta imagem do Saco da Capela tem aproximadamente trinta anos (clique nela para ampliar). Embora não seja uma foto nitida, percebem-se nela duas coisas. Primeiro, em trinta anos não houve diferenças importantes no desenho da pequena baía; até mesmo as grandes árvores da Ponta do Pequeá (pinheiros ou eucaliptos, não lembro exatamente) são as mesmas. Segundo, a quantidade de barcos aumentou consideravelmente; apesar disto, ainda é possível encontrar nesta praia a mesma atmosfera tranqüila de trinta anos atrás, com águas calmas e agradáveis -- talvez não tão limpas e cristalinas, mas ainda adequadas para o banho de mar numa semana sem chuvas.
Poucas pessoas notam, mas o que permite que este lugar mantenha seu valor é justamente o fato de existir gente interessada em coisas aparentemente sem valor, sem utilidade ou interesse particular. Muitas pessoas vêm para Ilhabela em busca de algazarra e movimento, mas o que realmente move este lugar são as pessoas que percebem a importância de fazê-lo parar.
domingo, janeiro 31, 2010
Para sobreviver em Ilhabela
O título do post é o título de um artigo que escrevi em 2007 e que havia ficado perdido em meus arquivos. Cuidadoso que sou com o que produzo, nem sequer me lembro se ele foi publicado ou não.
Mas ei-lo publicado em meu blog pessoal. O assunto, como verão, não perdeu sua atualidade.
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