segunda-feira, março 29, 2010

Alívio

Fiquei aproximadamente dez meses sem vir para Ilhabela. Passei por aqui nas últimas festas de fim de ano, para rever a família e arejar os humores -- ocasião que não conta como um retorno, mas apenas como uma visita breve e efêmera.

Neste fim de março pude finalmente retornar e ficar aqui com tempo e disposição necessários para apreciar esta cidade, observar-lhe eventuais transformações e pensar nessas coisas com algum senso crítico. Ao fim deste processo senti alívio. A despeito do que ouvi à distância, Ilhabela não mudou em nada. Continua a ser exatamente igual ao que era quando a deixei, em junho do ano passado.

Eu disse em outras ocasiões que o que torna este lugar admirável é sua capacidade de não mudar, de manter-se exatamente como sempre foi. Jóias como o pico do Baepi, a Baía dos Castelhanos e até mesmo regiões mais urbanizadas como o Saco da Capela encantam justamente pela capacidade de se manter exatamente como são, sem esconder um alheamento diante das turbas que a cada feriado tentam lhes dar ares boçais. Turistas vêm, aos montes, mas uma hora eles acabam deixando esta cidade e deixam nela o silêncio permanente das noites de domingo, sem carros e com rodas de violão. Ilhabela pode não ter parado no tempo, mas é um alívio descobrir que ainda há traços de vinte anos atrás nestas terras. A paisagem não mudou, algumas pessoas também não mudaram.

Não quero parecer (novamente) nostálgico, mas é fácil perceber o valor dessas coisas. Veja esta foto, por exemplo:



Esta imagem do Saco da Capela tem aproximadamente trinta anos (clique nela para ampliar). Embora não seja uma foto nitida, percebem-se nela duas coisas. Primeiro, em trinta anos não houve diferenças importantes no desenho da pequena baía; até mesmo as grandes árvores da Ponta do Pequeá (pinheiros ou eucaliptos, não lembro exatamente) são as mesmas. Segundo, a quantidade de barcos aumentou consideravelmente; apesar disto, ainda é possível encontrar nesta praia a mesma atmosfera tranqüila de trinta anos atrás, com águas calmas e agradáveis -- talvez não tão limpas e cristalinas, mas ainda adequadas para o banho de mar numa semana sem chuvas.

Poucas pessoas notam, mas o que permite que este lugar mantenha seu valor é justamente o fato de existir gente interessada em coisas aparentemente sem valor, sem utilidade ou interesse particular. Muitas pessoas vêm para Ilhabela em busca de algazarra e movimento, mas o que realmente move este lugar são as pessoas que percebem a importância de fazê-lo parar.