domingo, novembro 25, 2012

Três notas dominicais

1) Lição de casa que todos deveriam fazer, em especial quem vive em Ilhabela: ver o documentário «Por que a beleza importa», do filósofo britânico Roger Scruton. 


O documentário aborda o tema sob o ponto de vista da arquitetura e das artes plásticas, mas a mesma reflexão continuaria valendo se o foco fossem as belezas naturais de um lugar. 

O processo pelo qual quase todo o Ocidente passou ao longo do séc. XX por iniciativa da arte moderna não é em essência diferente do processo pelo qual Ilhabela tem passado nas últimas décadas: a beleza tradicional (natural) substituída por arremedos de gosto duvidoso.

2) A Ponta do Pequeá foi privatizada. Um pier de utilidade duvidosa ocupa uma faixa da Praia do Engenho d'Água. Parte das pedras da Barraca do Samba foi triturada. O Morro da Cruz está sendo carcomido por tratores e motoniveladoras. A qualidade das praias ilhabelenses piora a cada ano. A avenida principal da cidade está sendo alargada, logicamente, às custas das praias. Tudo indica que teremos um teleférico nas proximidades da Cachoeira da Água Branca.

E a gestão municipal que tem feito estas coisas -- ou que não tem feito nada em relação a elas -- ganhou mais quatro anos de cheque em branco recentemente.

3) Observei com atenção as expressões das pessoas que entravam na balsa no início do feriado da Proclamação da República em Ilhabela. Tenho o costume de fazer o mesmo quando uso o transporte público em São Paulo.

As diferenças são notáveis. Entre os turistas não há expressões de tristeza, impaciência ou nervosismo. Entre os paulistanos nos metrôs e principalmente nos ônibus, só há expressões desse tipo.

O mais curioso -- e desanimador também -- é constatar que a maioria das ações dos poderes públicos ilhabelenses ignora isso. Isto é, há muita criatividade para inventar meios de transformar Ilhabela num lugar comum -- como São Paulo -- e para cobrar caro por isso, mas não há criatividade alguma para manter Ilhabela como o lugar único e precioso que tem sido até agora. Por exemplo, a Praça Coronel Julião de Moura Negrão ganhou uma «fonte interativa». Precisava? Parte do Morro da Cruz está sendo trocada por uma avenida mais larga. Precisava? A Vila vai ganhar mais decks sobre o mar. Precisava? Alguma destas coisas era realmente necessária para que Ilhabela continuasse a ser encantadora? Ou o encanto de Ilhabela não está precisamente em manter seus atributos tais como eles têm sido desde antes do advento do turismo?