segunda-feira, dezembro 31, 2012

Mensagem para os vereadores

Lembrem-se: esta paisagem só existe em Ilhabela

Algumas palavras aos vereadores que assumirão seus postos neste 1º de janeiro:

Ilhabela não precisa de mais asfalto e de avenidas mais largas. Ilhabela precisa funcionar melhor para idosos e crianças -- a pé ou em bicicletas.

Ilhabela não precisa perder seus mangues e não precisa ter sua topografia alterada. Ilhabela precisa de praias e cachoeiras limpas e de mangues preservados.

Ilhabela não precisa de garagens subterrâneas, muito menos de verticalização. Ilhabela precisa de segurança para o turista, para o veranista e principalmente para o morador. Ilhabela precisa crescer humanamente.

Ilhabela não precisa de água azul jorrando do chão de concreto e não precisa de torres com cabos de aço. Ilhabela precisa da simplicidade de árvores, de pedras, de areia e de mar.

Ilhabela não precisa de megashows e de bairros inteiros congestionados, inundados de automóveis e tomados por desordeiros movidos a álcool. Ilhabela precisa daquele silêncio que permite apreciar paisagens e colecionar memórias.

Ilhabela não precisa de um shopping center, não precisa de investidores, de consumidores e de políticos. Ilhabela precisa de pessoas de verdade, de famílias, de lares. Ilhabela precisa de sabedoria e de história.

Ilhabela não precisa ser Caraguatatuba, Guarujá ou Santos. Ilhabela não precisa e sequer tem condições de ser Miami. Ilhabela precisa continuar a ser Ilhabela.

Por que digo isso? Sou um sabe-tudo? Sou presunçoso? Não, apenas tenho olhos e memória. Há ações que transformam Ilhabela num lugar qualquer e há ações que a tornam ainda mais especial e única. Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que estas ações são melhores e muito mais necessárias do que aquelas.

Pensem nisso quando os senhores estiverem criando mais leis para esta cidade. Lembrem-se das leis que já existem e de como elas têm sido aplicadas. Lembrem-se das bandeiras vermelhas nas praias -- turista não vem a Ilhabela apenas para fazer seus próprios cartões postais. Lembrem-se das praias que têm sido tomadas por muros, das grades e píeres particulares que avançam na direção do mar. Lembrem-se das cachoeiras tomadas por esgoto. Lembrem-se da privatização do espaço público, da priorização do carro (que só se consegue em detrimento de pedestres e ciclistas), lembrem-se do que era Ilhabela 30 ou 40 anos atrás.

Não proponho que os senhores se esforcem para que Ilhabela volte a ser o que não pode mais ser. Proponho apenas que respeitem uma história que jamais se desfará e que lembrem que este lugar se desfaz a cada ação pública ou privada realizada sem o peso da memória e da tradição. Proponho que respeitem um lugar que já era rico muito antes que todos nós existíssemos. Peço que façam algo para que essa riqueza seja colocada em evidência, seja preservada e utilizada adequadamente.

Se os senhores não conseguem ver as formas pelas quais é possível viver e preservar ao mesmo tempo, por favor não apostem na própria criatividade; tenham a sabedoria e a humildade para pedir ajuda a quem sabe aproveitar as qualidades deste lugar sem destrui-las.

Boa sorte em seus mandatos. Que os senhores possam fazer o melhor para Ilhabela e que seus mandatos sejam lembrados pelo bem realizado, não pelo mal imposto a este arquipélago.


Christian Rocha
professor

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sexta-feira, dezembro 21, 2012

Questão de prioridade

Faz alguma diferença se toda essa água estiver poluída?

Tenho visto amigos e concidadãos despendendo uma energia gigantesca em assuntos de importância duvidosa. Quem acompanha as discussões no Facebook deve ter visto longos debates sobre temas que vão do uso irônico de um logotipo até a implantação de um teleférico, passando por outros temas mais ou menos importantes.

Eu mesmo fiz minha parte nesse processo pestilento de atirar para todos os lados. Não apenas participei da discussão de temas como a aparência de uma fonte numa praça, como também questionei o uso indevido de placas de trânsito, inclusive registrando isto em ibagens -- dois temas que estão longe de ser estratégicos para o município.

Meus concidadãos mais engajados argumentarão que uma discussão sobre uma fonte é algo bastante importante, já que sua necessidade e sua utilidade eram de fato discutíveis e o dinheiro aplicado nela poderia ser usado para fins mais nobres. É claro que eu concordo com esse argumento, que pode ser aplicado a todos os temas, por menores que pareçam: o desperdício de placas de trânsito e a desordem causada por sua instalação indevida significam tempo e dinheiro público jogados fora, o que, num lugar que está longe de ser perfeito nas coisas essenciais, faz diferença.