quinta-feira, maio 18, 2006

Violência

Não pretendo aqui me manifestar longamente sobre os acontecimentos que têm assustado o Estado de São Paulo. Já o tenho feito suficientemente em meu saite pessoal.

Aqui, para ater-me aos objetivos deste blog, digo apenas que os fatos confirmam a idéia de que Ilhabela está mortal e violentamente ligada aos rumos que o Estado de São Paulo e o resto do Brasil têm tomado. Surpreende o fato de que muitas pessoas ainda pensam diferente; crêem que Ilhabela é um caso particular, uma exceção, não apenas no Brasil, mas no litoral norte paulista. Conversando com amigos pela internet, muitos se surpreendiam ao saber que até em Ilhabela a insegurança fechou o comércio.

Não é difícil imaginar que essa idéia possa tornar a violência por aqui um problema de proporções monstruosas. A aparente tranqüilidade com que se vive em Ilhabela nos torna mais vulneráveis do que em outros lugares. Quem vive aqui não está acostumado a preocupar-se com a segurança.

Só que Ilhabela não é exceção. Esta cidade também parou naquele 15 de maio.

Dois dias antes do avanço da criminalidade na capital, uma agência bancária foi assaltada em Ilhabela, às 11 da manhã. Durante o fim-de-semana e sobretudo naquela segunda-feira fatídica, diversas ocorrências foram registradas nesta cidade.

Ontem, o Imprensa Livre, principal jornal do litoral norte, com sede em São Sebastião, foi atacado e teve seu parque gráfico incendiado.

Em seguida, o governador Claudio Lembo vem a público para dizer que isso é culpa da burguesia.

Tudo está perdido. Se alguém tiver alguma solução, por favor compartilhe-a. A minha é esta.

quarta-feira, maio 10, 2006

Metendo a colher em Ilhabela

Meu artigo na edição de maio no Jornal do Arquipélago.

quarta-feira, maio 03, 2006

Manifestação na travessia

A manifestação não aconteceu. O Departamento de Trânsito de Ilhabela (DSTM) fez boletim de ocorrência preventivo e melou a coisa toda, conforme informa o noticiário do Litoral Virtual de hoje.

Seja como for, a quase-manifestação, capitaneada pela Câmara Municipal de Ilhabela, é um sinal para que a DERSA saiba a quantas anda o serviço de travessia -- supondo que os outros sinais já não são mais do que suficientes. E um sinal de que há pessoas atentas à decadência da travessia.

Não pretendo me repetir. Basta lembrar que o assunto já foi tratado neste blog algumas vezes. Em meu post mais recente sobre a travessia, reproduzi uma carta que enviei à DERSA, que permanece sem resposta.

Identifico, contudo, uma falta de clareza quando acesso os saites da DERSA e da TWB, grupo responsável pela OP Mariner. Em seu saite, a DERSA informa que é administradora da travessia:

"A Dersa administra as travessias litorâneas nos litoral Norte, Centro e Sul do Estado de São Paulo."

O saite do grupo TWB informa que a OP Mariner opera as travessias:

"Sua vocação no setor aquaviário levou-a a operar, a partir de 2001, todas as travessias litorâneas de passageiros e veículos do Estado de São Paulo, sob jurisdição do DERSA."

Pergunto: quem responde pela travessia? Quem um pedestre comum deve procurar diante de um serviço visivelmente ineficiente? A DERSA ou a OP Mariner (TWB)? É possível que minha mensagem tenha sido vítima do famoso jogo-de-empurra? Devo procurar a OP Mariner, através da TWB?

A DERSA dispõe apenas de um formulário on-line, sem endereços de e-mail. Diante da ausência de respostas, desconfio que as mensagens são eliminados ou enviados para quarentena tão logo se clique em 'enviar'. A TWB oferece uma lista de e-mails, que reproduzo a seguir:

Presidência: presidencia@twbmar.com.br
Vice-presidência: vicepresidencia@twbmar.com.br
Diretoria administrativa: diretoriaadmrh@twbmar.com.br

Talvez isso sirva para alguma coisa. O formulário da DERSA, que se propõe a atender essas demandas, não serviu para nada até agora.

segunda-feira, maio 01, 2006

Ainda o fim de Ilhabela

Vivo em Ilhabela há quase 10 anos e venho para este lugar desde que nasci. Nada me impressionou tanto nestes últimos anos quanto o boletim mais recente sobre a qualidade das praias. Das onze praias que a Cetesb avalia semanalmente, nove foram consideradas impróprias para banho. Em março de 2004 foi obtido o pior resultado desde que as avaliações começaram a ser feitas -- dez praias impróprias; naquela ocasião, somente a praia do Saco da Capela estava própria para banho --, mas tratou-se de uma ocorrência isolada num mês que apresentou águas limpas a maior parte do tempo. O que torna o fato tão alarmante desta vez é que ele repete o resultado anterior (nove praias impróprias e no caso de algumas praias, como Pinto, Perequê e Siriúba, uma sucessão de dois meses de bandeiras vermelhas) e nos faz perceber que a poluição passou a fazer parte do cotidiano das praias ilhabelenses.

Tão surpreendentes quanto os resultados das avaliações feitas pela Cetesb são as reações a eles. Em grupos de discussão em que repassei essas informações houve algumas reações apaixonadas. Algumas pessoas ainda acham que falar dos problemas da cidade significa falar contra a cidade, como se esconder tais informações pudesse eliminar os problemas a que elas se referem. Tentam, desta forma, repudiar a pessoa que porta a informação e a entidade que a divulga, sem, é claro, sequer tocar no problema em si (a poluição das praias), muito menos em suas causas.

Aparentemente não há nada de estranho com os boletins -- que seguem legislação e procedimentos que não são fixados pela Cetesb -- tampouco com a divulgação, feita discretamente no saite da instituição, com freqüência regular e previsível. Estranha é a reação das pessoas que acham que o portador da má notícia é também responsável por ela. Estranha mas compreensível. Quando nos deparamos com a informação de que a poluição das praias ilhabelenses não é exceção, mas a regra, somos obrigados a admitir que Ilhabela acabou, que finalmente nos igualamos a qualquer outro lugar decadente no quesito "qualidade das praias". E isso, para quem vem para Ilhabela embalado por slogans como "Ilhabela, meu paraíso" ou "Ilhabela, campeã de preservação", deve ser um balde de água fria.

A psicologia identifica esse comportamento como um dos mecanismos de defesa utilizados quando o indivíduo se vê diante de uma ameaça à realização ou preservação de seu objeto de desejo. É muito mais fácil negar a realidade, inclusive eliminando o mensageiro, do que considerar a possibilidade da mensagem ser verdadeira e pensar que o sonho acabou. A má notícia, no caso de Ilhabela, abala diversos dogmas que sustentaram e moveram a sociedade e a economia locais. Admiti-la significa mexer nas mentes e nos bolsos.

Se existe um paraíso, ele nunca esteve em Ilhabela, mas em tudo aquilo que pode ser considerado externo à cidade. Talvez esse critério sirva ao Parque Estadual, por exemplo, cuja existência é hoje miseravelmente dependente da legislação e da coragem de um punhado de fiscais. Eu acreditava que esse critério pudesse ser aplicado também às praias, mas elas nunca estiveram desligadas da cidade. O emporcalhamento crescente das águas do Canal de São Sebastião demonstra que as praias sempre estiveram mortalmente atreladas ao crescimento de Ilhabela.

As obras de saneamento básico realizadas pela Sabesp são consideradas uma evolução pela maioria das pessoas, sobretudo as autoridades. O esgoto é tirado das fossas, das casas, dos lotes, o que diminui o risco de contaminação dos córregos e de lençóis freáticos. Contudo, tiram do indivíduo a responsabilidade por seus dejetos e os lança no Canal de São Sebastião. Ainda que isso inclua tratamento adequado, surgem duas perguntas: 1) até que ponto o tratamento que o esgoto recebe é capaz de preservar a balneabilidade das praias de Ilhabela?; 2) o Canal de São Sebastião tem condições de receber esses dejetos?

Para desgosto de meus conterrâneos, já declarei algumas vezes em outros artigos que Ilhabela acabou. A beleza de Ilhabela -- que seu próprio nome insiste em afirmar -- é cenográfica. Estas afirmações, é claro, exigem longas e cansativas discussões técnicas, filosóficas e políticas. Embora incipientes, elas são uma tentativa de trazer à luz uma questão simples: se a economia e o turismo ilhabelenses se desenvolveram por causa de suas belas praias e hoje essas praias estão poluídas, o que mais falta para reconhecermos o fim de Ilhabela?