quinta-feira, junho 08, 2006

A condominização de Ilhabela



Esta discussão está dando o que falar. A proposta não é diferente de tantas outras; o erro foi tê-la divulgado no Orkut. Em dias de hoje, quem quer comprar uma casa de alto padrão não vai ao Orkut, vai a uma imobiliária e conversa com um corretor a portas fechadas.

A Odebrecht construirá um condomínio fechado (mais um) em Ilhabela, chamado Yacamin, com nhenhentas unidades, entre casas, apartamentos, hotéis, um complexo esportivo e de lazer, vista para o mar e tudo o mais que o habitante endinheirado da capital possa imaginar para seu conforto e hedonismo litorâneo. É bem possível que o empreendimento siga à risca as determinações dos órgãos ambientais, mas tenho a impressão de que as favelas ilhabelenses aumentam um pouquinho cada vez que um monstrengo condominial como esses é erguido. Disso, algumas questões:

1) A quantas anda o Plano Diretor de Ilhabela? O PDI serviria inclusive para organizar esses arroubos litorâneos das incorporadoras paulistanas.

2) Alguém — empreendedores, arquitetos, corretores — já ouviu falar de urbanismo? Fico surpreso ao perceber que o assunto é ignorado e Ilhabela acaba sendo construída à base de condomínios e favelas.

3) Condomínios precisam de muita mão-de-obra braçal para serem construídos. Terminada a construção, encerra-se o emprego. Qual o impacto social disso? Argumenta-se que o impacto social desses empreendimentos é todo ele resolvido à base de impostos: o condomínio Yacamin gerará impostos durante a construção e continuará gerando impostos depois que estiver pronto. Se isso é verdade, tanto pior, pois reforça a idéia de que empreendimentos desse tipo só precisam se relacionar com a cidade através de obrigações tributárias, constituindo assim uma espécie de anti-urbanismo.

4) Não seria adequado solicitar de empreendimentos desse porte um relatório de impacto social, à maneira dos EIA/RIMA?

5) Como esses empreendedores vêem a cidade? Como os futuros moradores vêem Ilhabela? Para eles o que é Ilhabela? Um quintal? Um parque temático? Uma cidade de verdade?

6) Não seria o Yacamin uma versão ilhabelense do Parque Cidade Jardim?

7) Que a prefeitura está se lixando pra isso, não é novidade. O executivo executa as leis e elas dizem que o máximo que se pode fazer é exigir os documentos e cobrar os impostos. Finis. Contudo, isso me parece um trabalho para os intrépidos vereadores de Ilhabela, não? Que tal pedir um pouquinho de responsabilidade social das incorporadoras da capital que desembarcam aqui com seus projetos ao estilo Alphaville?

Um comentário:

Anônimo disse...

E muito triste Ilhabela ser vendida pelos proprios "funcionarios" .
Esse e um caso entre outros que existem a tempos ,como por exenplo DPNY tambem no Curral.
PIADA!!!