
Todo mundo sabe que na Semana da Cultura Caiçara deste ano havia dois bons shows programados -- um na sexta, dia 14, com Almir Sater e outro no sábado, dia 15, com Sérgio Reis. Todo mundo deve saber também que os dois shows não aconteceram -- os artistas originalmente programados foram substituídos por artistas locais.
Não tenho informações sobre como foi o evento no sábado. Na sexta o que presenciei foi o seguinte: as autoridades presentes na Praça Coronel Julião não foram capazes de subir ao palco para oferecer explicações sobre a mudança de última hora ou para pedir desculpas pelo ocorrido.
Eu não me senti pessoalmente ofendido pela mudança, embora goste muito da música instrumental de Almir Sater. Problemas podem ocorrer e foi este o caso. Felizmente havia um grupo musical de Ilhabela disposto a animar aquela noite da Semana da Cultura Caiçara.
O problema, bastante sério, é a total displicência com que o assunto foi tratado pelos responsáveis. Isto é, não foi tratado. As informações disponíveis correram à boca miúda e até hoje não se sabe exatamente o que aconteceu.
Não me interessa o fato em si, porque, como disse antes, não me sinto pessoalmente ofendido com o que houve -- a noite foi agradável, enfim. O que me preocupa é o que o fato representa: pessoas públicas que não vêm a público quando sua presença é fundamental, pessoas públicas que não compreendem qual é a hierarquia que devem seguir, pessoas públicas que não sabem o que é liderança, organização e representatividade.
Se ignoram todas estas coisas, explico.
-- Quando um problema surge na condução de qualquer aspecto da administração de um município, é fundamental que os responsáveis se manifestem, dêem todas as informações necessárias e coloquem-se à disposição caso surjam dúvidas sobre aquele assunto -- mesmo que seja um show numa festa popular.
-- Ocupar um cargo público, a despeito do onipresente cartaz que lembra o contribuinte dos riscos de ofender um funcionário público em ação, significa servir à população, não o contrário. Como dizem as definições clássicas, o poder do homem público emana da população -- e o dinheiro que o sustenta também. Só isto já seria suficiente para neutralizar instituições nauseabundas como a carteirada e o "você sabe com quem está falando?".
-- Um cargo público tem um enorme peso simbólico na condução de um município -- tanto maior é esse peso quanto mais alta a posição do indivíduo no organograma de uma prefeitura. Prefeitos, secretários, vereadores, deputados -- mais do que simplesmente realizar obrigações previstas na lei, todo homem público simboliza algo que influenciará a forma como a sociedade se constrói e se desenvolve.
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