quinta-feira, dezembro 15, 2005

O Caminho de Castelhanos


Quando me vejo consternado com aquilo que tem sido feito de Ilhabela -- devastações, agressões, politicagens etc. -- não me ocorre sugerir ações opostas, como campanhas de educação ambiental, manifestos pró-natureza ou pró-ética ou qualquer tipo de militância na Câmara Municipal. Bastaria que cada pessoa fizesse, ao menos uma vez na vida, algo parecido com o que fiz uns anos atrás: ir a pé até a praia de Castelhanos, sozinho, em silêncio, banhar-se nas águas da Cachoeira do Gato, dormir ao relento, na areia, acordar com os primeiros traços de claridade, embrenhar-se na mata ainda escura, mais uma vez em silêncio, e observar a alvorada no alto da serra.

Tudo isto deve ser feito de preferência com os pés descalços (as dificuldades que isso impõe são parte do processo), com roupas leves e uma mochila que contenha pouca coisa além de alimento e um meio de registrar esse caminho (uma pequena câmera fotográfica e/ou um caderno).

Não é necessário "espiritualizar" esse caminho. Basta permitir-se cumpri-lo, deixar o corpo percorrer a distância que liga o bairro do Reino à praia de Castelhanos (uns preferirão a praia dos Castelhanos). Naturalmente o cansaço virá: antes o do corpo, depois o da mente, nauseada pelo silêncio e pela paisagem monótona da mata fechada e de ladeiras intermináveis. Mas serão cansaços momentâneos que, superados, trarão renovação.

Embora projetos, leis e investimentos sejam coisas boas, para tornar Ilhabela um lugar um tantinho melhor eles não são mais necessários do que uma longa caminhada até a praia de Castelhanos. Vá até lá, volte e conte-me como foi, o que viu e o que sentiu.

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