quarta-feira, janeiro 11, 2006

O turismo às avessas


Sim, graças aos turistas Ilhabela pode encontrar alguma prosperidade a cada verão. Os comerciantes não têm do que reclamar. Os moradores, de alguma forma também não, pois tudo é movido pelo turismo. Tudo, sobretudo porque a maioria dos moradores já foi turista outrora. Assim, até mesmo algo muito local, como a construção civil, move-se por causa do turismo. Todos sabem que o mercado imobiliário cresce um pouquinho durante e principalmente logo depois de uma temporada de verão.

Mas perceba que nem sempre foi assim. As demandas que hoje existem não existiam antes (antes = quando o turismo não era uma atividade econômica significativa). As praias permaneciam vazias e limpas, com águas cristalinas. Matas continuavam intocadas, assim como as cachoeiras, que se mantinham tranqüilas, alheias aos jipes e às motosserras. Essa condição é obviamente perfeita para o turismo.

O que difere o turismo sustentável do turismo insuportável é a educação das pessoas e uma dose saudável de controle estatal -- políticos são bem pagos inclusive para isso.

Nunca estive em Bonito, MS (quem esteve, por favor dê seu testemunho na área de comentários deste post), mas parece-me que quem pensa nesse lugar e em visitá-lo um dia, sabe de antemão que entrará numa espécie de santuário, cuja preservação depende de sua atitude como turista. Essa consciência foi construída através da própria preservação, resultado da parceria entre proprietários de terras e poder público. A lógica é simples e se você já entrou numa loja de cristais ou numa grande biblioteca sabe do que estou falando: a qualidade do lugar inspira uma atitude que ajuda a mantê-lo.

Em Ilhabela tem-se a impressão de que as coisas são feitas ao contrário. Cria-se a avalanche sazonal de turistas e depois, caso restem dinheiro, energia e tempo, pensa-se em criar uma estrutura adequada, que incluiria preservação das águas, das matas e do pouquinho de cultura que o lugar possuía -- as matérias-primas do turismo.

Diante disso, não surpreende que as bandeiras vermelhas da Cetesb sejam cada vez mais freqüentes nas praias de Ilhabela. E o prefeito ainda duvida do diagnóstico...

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