quarta-feira, março 12, 2008

Para entender a balneabilidade das praias



Num tópico na comunidade Ilhabela no Orkut perguntaram sobre os critérios e a lógica que poderia haver nas avaliações de balneabilidade das praias de Ilhabela, feitas pela Cetesb.

Há praias visivelmente impróprias que são vistas com bandeiras verdes, enquanto praias tradicionalmente boas -- ou, pelo menos, que costumam ser reconhecidas como de boa qualidade -- têm bandeiras vermelhas.

A resposta que adicionei ao tópico, toda ela baseada nas informações que a própria Cetesb transmitiu numa audiência pública ocorrida no ano passado, pode eliminar algumas dúvidas.

Sobre este assunto, escrevi isto um tempo atrás:
http://ilhabela.blogspot.com/2006/06/matando-o-mensageiro.html
http://ilhabela.blogspot.com/2007/05/quero-minha-praia-de-volta.html

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Na audiência a que me refiro no primeiro texto, pessoal da Cetesb veio esclarecer como eram feitos os levantamentos. Alguns intens importantes da explanação oferecida:

1) Existe um «lag» entre a coleta de amostras e a colocação da bandeira. Este «lag» se deve ao fato de que as amostras são levadas para São José dos Campos, onde são analisadas. Os resultados demoram cerca de um dia para serem obtidos. Leva mais um tempo até que funcionários da Cetesb voltem ao litoral para colocar as bandeiras. Naturalmente, dispõe de poucos funcionários para todo o litoral norte, o que torna o processo ainda mais lento.

2) A qualidade da água varia muito mesmo em uma mesma praia -- ainda que seja pequena. Há trechos em que o esgoto rola solto, como todos sabemos. Contudo, dependendo da correnteza, esse esgoto tanto pode se dissipar rapidamente e nem chegar ao ponto onde são colhidas as amostras como pode ficar todo acumulado na orla de toda a praia. Pode acontecer também do esggoto derramado numa praia acumular-se em outra praia tida normalmente como limpa e própria.

3) O regime de chuvas é um fator que influencia muito a qualidade das praias. Um período de seca melhora sensivelmente a qualidade das águas. Basta chover para descer esgoto e sujeira para o mar. Novamente, vale aqui o que foi dito sobre o «lag»: bandeiras verdes podem ser vistas em períodos de chuva, de mar lamacento; enquanto que em períodos de seca as bandeiras vermelhas podem ser vistas às vezes, a despeito da boa aparência das águas.

4) O levantamento da Cetesb pretende -- palavras dos próprios profissionais na audiência pública -- ser apenas um referencial, não um atestado 100% seguro da qualidade da praia. A presença ocasional de uma bandeira vermelha significa que aquela praia está sujeita a quedas na qualidade. IMHO, isso já é alerta suficiente.

Na ocasião da audiência os próprios vereadores questionaram a possibilidade de haver alguma má intenção dos profissionais da Cetesb. A explicação deles eliminou qualquer mal-estar.

O que há, como talvez tenha ficado claro no texto «Matando o mensageiro» é um interesse local em que os boletins «negativos» não sejam divulgados. Há diversas ocorrências de bandeiras vermelhas que foram roubadas das praias e a impressão que algumas pessoas têm é que a Cetesb se coloca «contra» o município quando divulga boletins que revelam a qualidade decadente de nossas praias.

As praias não são sujas por elas mesmas, por razões naturais -- embora isso possa ocorrer também. Em Ilhabela, o que estraga as praias é o esgoto. Por isso a chuva é um fator decisivo: basta chover para o esgoto descer para as praias e torná-las impróprias.

Podem tentar culpar a Cetesb por divulgar os boletins de balneabilidade, podem querer culpar São Pedro, mas o fato é que a cidade está estragando as praias.

Se não é possível evitar que os rios e córregos corram para o mar, talvez seja possível evitar que o esgoto chegue a eles.


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Original da imagem: acervo do autor.

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