segunda-feira, outubro 31, 2005

Paraíso perdido


Postei os seguintes parágrafos no Orkut, a respeito de meu texto Ilhabela já era. O que fazer?. Achei adequado trazer o tema para cá.

Quem puder e quiser, comente. A todos, obrigado.
O que talvez não fique claro com o texto -- por ter sido escrito há algum tempo -- é a necessidade de abandonar a idéia de que Ilhabela é um paraíso.

É lugar-comum, principalmente entre pessoas que não moram aqui, que Ilhabela é um paraíso (a maioria das pessoas usa este termo mesmo). Quando encontro amigos e amigas no MSN, muitos me perguntam "E aí, como vai o paraíso?".

Ilhabela tem uma série de vantagens em relação à maioria das cidades brasileiras, mas, mesmo fazendo uma avaliação muito bondosa, sabemos que esta cidade está longe de ser o paraíso que todos dizem que é.

Quando escrevi o texto eu pensava nisso. É necessário abandonar esse preconceito. A repetição exaustiva de que Ilhabela é um paraíso, nos leva, pela própria definição de paraíso, a uma atitude bobalhona, predatória ou no mínimo passiva.

Imagine-se num paraíso verdadeiro: o que você faria? Cuidaria do lugar e trabalharia para melhorá-lo ou tentaria aproveitar-se dele da forma mais ostensiva possível, embasbacado pela imagem da perfeição? Sinto que a repetição automática desse jargão traz mais problemas do que benefícios a Ilhabela. Afinal, o que há para ser melhorado num lugar que todos dizem que é lindo, perfeito, o céu na Terra?

É claro que Ilhabela não se acabou, ainda há muitas coisas boas aqui. Mas a simples celebração dessas qualidades não ajuda em nada, não traz nada de bom ao lugar e às pessoas que moram aqui. Não me surpreende que os turistas assumam essa versão como a mais certa e verdadeira -- porque convém ao hedonismo praticado por eles --; surpreende-me no entanto que moradores sejam capazes de ver Ilhabela desta mesma forma, sem perceber que com isso tornam-se instrumentos da predação que pretendem combater.

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