quinta-feira, agosto 25, 2005

O idílio idealizado


Marcel Duchamp diria: "Isto não é uma praia"

Moradores de Ilhabela, turistas e veranistas têm interesses muito diversos.

Moradores tentam construir suas vidas -- e todos sabemos que isso geralmente significa matar um leão por dia, não só em Ilhabela.

Turistas encaram Ilhabela como um lugar para ser desfrutado, o que não é essencialmente diferente daquilo que qualquer turista faz -- em Praia Grande ou em Honolulu. O que ele faz num hotel, ele acredita poder fazer em qualquer lugar da cidade.

Veranistas vivem uma situação ambígua. Possuem raízes profundas em alguma cidade grande e escolheram Ilhabela como o lugar da segunda residência. Pretendem, num futuro o mais breve possível, inverter a situação, instalando aqui a residência principal e deixando para trás as ninharias da metrópole.

Embora os interesses sejam diversos, esses três tipos coincidem num ponto. Eles esperam que a cidade seja perfeita, já que se acostumaram desde cedo à imagem de beleza idílica cristalizada ao longo das décadas e pela fama -- internacional inclusive -- que o turismo lhe proporcionou. Para todos os efeitos, Ilhabela é um lugar perfeito e todo traço de imperfeição é uma característica atípica, um desvio inaceitável daquela imagem idealizada.

O que esses três tipos de pessoas fazem para que tais desvios sejam encarados de forma realista e, afinal, solucionados? Nada. Apenas esperam que a cidade continue sendo aquilo que eles imaginam ser, que as leis sejam cumpridas para que eles possam cumpri-las também, que Ilhabela seja um paraíso.

Só que não há um paraíso, principalmente agora.

Nenhum comentário: