sábado, novembro 26, 2005

Parente é serpente

Ainda tramita na Câmara o projeto de lei nº23/2005 de autoria do vereador Dr. Guilherme (PMDB) o projeto que pretende acabar com o nepotismo no município. Conforme seu próprio texto, a lei proposta “Proíbe a contratação de parentes até o segundo grau no âmbito da administração direta, indireta, autarquias e fundações do município de Ilhabela”. O projeto deve ir a plenário ainda este ano, se o recesso da Câmara permitir.

A polêmica em torno do nepotismo surgiu quando ficou claro e evidente que a prática é mais do que comum em Ilhabela. Inspirados pelas declarações do ex-deputado Severino Cavalcanti, os acusados não demoraram a buscar e oferecer explicações que davam ares de moralidade a um ato típico de pessoas imorais. O principal argumento a favor do nepotismo é a confiança que os empregadores podem depositar em seus empregados, já que são todos seus parentes. Vejamos se esse argumento é válido:

1) Desde Caim e Abel, o parentesco já não significa muita coisa. Uma pessoa confiável será confiável independentemente de parentesco.

2) A confiabilidade que um governante espera de seus parentes é do tipo que não interessa aos cidadãos; trata-se da confiabilidade que cria uma cortina de fumaça nos negócios públicos, que torna um governo cada vez menos transparente e restrito a um determinado clã.

3) Por esta razão, trabalhar rodeado de parentes inspira mais a informalidade dos sabujos e dos maliciosos do que a competência dos técnicos e a sabedoria dos aristocratas.

4) O que, portanto, poderia ser um argumento a favor do nepotismo, é na verdade o papo mole de quem pretende justificar o injustificável sem perceber os riscos de tal atitude para a população e para si mesmo.

Além destas razões, há outro aspecto moral, que determina que o administrador público ofereça chances iguais de trabalho a parentes e não-parentes. Ainda que o pistolão seja uma instituição mais sólida do que muitas prefeituras brasileiras, é importante dizer e lembrar aos adeptos da lei de Gérson que se trata de uma prática absolutamente imoral e inaceitável. Privilegiar um parente pode ser uma atitude natural para a maioria das pessoas -- e de fato é, em qualquer sociedade que tenha os laços familiares como fundamento para uma vida civilizada.

Quando, no entanto, o bem estar da população e o dinheiro público entram em jogo, qualquer político sensato deve assumir a responsabilidade que o cargo lhe exige e colocar no pedestal de suas decisões não a sua família, mas as virtudes que o definem como um aristocrata. Não que o político deva abandonar sua família, como o monge que se retira para aprender a vida monástica e para encontrar o nirvana, mas ele pode e deve atender àquilo que eleitores expressaram com o voto: o desejo de que o político seja um misto de líder equilibrado, administrador competente e homem justo e honesto. Rodeado de parentes, poucas pessoas sabem ser algo além do marido prestimoso ou do irmão complacente. Ilhabela não precisa disso.

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